domingo, 12 de agosto de 2012

Eu trabalhei na Rio +20 ;

Caramba, eu estava a longos dias sem escrever nada. E um dos motivos foi esse trabalho. Depois que acabou, apareceram uns 187 trabalhos da faculdade pra fazer, inclusive dos professores que estavam em greve. E sei lá, nos tempos que eu tinha livre eu tirava um lazer do tipo filmes/jogos. Mesmo. E um adendo mais recente, meus flashcards chegaram depois de uns 4 meses esperando. E hoje, quando termino o post, percebo que enrolei muito mais do que deveria mesmo.
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Se você não mora debaixo de uma pedra numa caverna na lua, você ouviu falar da conferência Rio+20. Resumindo, foi uma conferência da ONU para discutir questões relativas ao desenvolvimento sustentável que acabou dando em nada, porque os países desenvolvidos estão em crise e não estão afim de usar grana que pode ser necessária depois pra aplicar na estrutura sustentável ou em programas para combater a pobreza. Se quiser mais informações sobre a conferência, você eventualmente encontrará aqui.

Rio+20 maneiras de gastar dinheiro público

A greve na universidade acabara de começar e consegui arranjar esse trampo, que na entrevista descobriria ser encarregado de um help desk em algum hotel. Pensei: "bacana né, a gente deve ficar numa mesinha com um computador pra pesquisar as dúvidas que os participantes da conferência tiverem e, se baixar o movimento durante algumas horas, a gente ainda pode se distrair nas internets".

Seriam 15 dias corridos. O primeiro dia não teria muita coisa, seria pra supervisora entregar o material de trabalho e ficarmos lá de bobeira, reconhecendo o perímetro e averiguando a região em busca de restaurantes ou lanchonetes.

Enfim, chegou o dia. Botei meu terno e peguei o ônibus que passava perto do tal hotel. Andei pelo calçadão de Copacabana pra chegar até lá, mas não era um dia ensolarado (o que pra mim era ótimo, embora começasse a chuviscar). Ah é, eu tinha sido escalado num hotel do lado do Copacabana Palace, que ficava de frente pro mar também (o hotel, não a recepção).

Tudo maravilhoso, hotel bacana, mesa colocada num lugar estratégico que batia um vento mágico de algum ar condicionado (que não estava em canto algum sobre nós, o vento existia ali magicamente mesmo - e até a porra do final do evento a gente não descobriu como ele chegava ali). Vento aliás que só era cômodo pra mim, as meninas que trabalhavam comigo reclamavam de frio o tempo TODO.

Éramos 3 no turno da tarde/noite (começava 13h e terminava às 21h) nessa segunda-feira, mas da quarta em diante iriam ficar 2 pela manhã e 2 à tarde. E NADA aconteceu nesse dia, exceto a visita da nossa supervisora pra entregar gravatas/lenços/bottons. Ficamos frustrados né, mas ok, era só o primeiro dia, ainda não tinha começado o evento. Aliás, a gente se divertiu com um molequinho que estava hospedado no hotel. Gabriel era o nome dele. Não há como esquecer deste garoto que saiu correndo para a porta automática e, quando ela abriu, levantou os braços como o cristo redentor e meteu o pé pra rua, fazendo os mensageiros do hotel terem que correr atrás dele feito bobões de filme pastelão.

Os próximos dias transcorreram na maior calmaria possível. A supervisora vinha uma vez por dia, trazia algumas notícias, informações e recomendações, uns mapas do ônibus que a galera poderia pegar nos horários marcados (o Shuttle Map maldito), e sempre dizia que no dia seguinte o movimento no hotel melhoraria, que mais pessoas viriam perguntar sobre o evento. Isso se tornou uma espécie de maldição. Toda vez que alguém (fosse a supervisora, o gerente do hotel ou a galera que via a gente irritado por não fazer nada) dizia esta maldita frase "amanhã o movimento melhora" ou similares, as pessoas pareciam precisar menos de nós.

Sentávamos a bunda e esperávamos a hora de ir embora.
Era tipo isso que fazíamos lá.

Quem mais precisou, aliás, foram uns gringos aleatórios, que vieram para a conferência por vontade própria, não eram diplomatas nem iam palestrar. Apareceu uma patotinha de uma ONG, por volta de umas seis pessoas, que eram de diferentes países. Tinha uma canadense, um equatoriano, um cara sem dente da África do Sul e uma quarta que não lembro de onde era, mas parecia uma mendiga. Não é pré-julgamento, é só efeito visual. Os outros nós nunca vimos, ou se vimos já escapou da mente. Enfim, o equatoriano e a canadense eram os que mais vinham tirar dúvidas conosco. Pediram informações de direção e de localização de um auditório X, que não sabíamos onde ficava.

Aliás, não sabíamos onde ficava quase nada. Um totem foi colocado e semi-instalado lá pra ser usado como fonte de informações tanto pra nós quanto, obviamente, para os cidadãos que desembarcaram no Rio de Janeiro para a conferência, mas o cabo que ligava a internet na parada estava mudo. E permaneceu mudo durante uma semana, porque a burocracia pra ativá-lo era daquelas que já estamos acostumado. Então ligamos para a supervisora, que ligou pra supervisora dela, pedindo a informação sobre tal auditório. E a resposta foi: todos os auditórios ficam no Rio Centro. No dia seguinte, eles disseram pras meninas que eles tinham ido lá, e que então disseram que o tal auditório era na Praia do Flamengo. Shame on us.

No primeiro final de semana chegaram pra se hospedar no hotel os caras do Capital Inicial. Fizeram o procedimento na recepção e subiram rapidinho, sem dar muito vestígio de que estavam ali. Na noite do mesmo dia, chegou um maluco esquisitão com uns broderes filmando sua chegada no hotel. Na mala dizia "Skazi", e quando cheguei em casa vi que era um DJ sérvio. Não sei qual nível de fama, mas deve ter algum.

A galerinha do Capital Inicial foi embora uns dois dias depois sem deixar muito vestígio também. O único que "falou" com a galera do hotel, inclusive a gente, foi o guitarrista do chapéu de cowboy, do qual não me recordo o nome. Mas não os culpo, essa parada de bajulação deve incomodar um pouco. E nem sempre você tá felizaço afim de dar um sorriso pra qualquer um que te reconheça.

Na segunda semana, o movimento piorou. Os cento e mil coreanos chegaram, com mais um pessoal dos Emirados Árabes, além de uma meia dúzia de um país da África que não me lembro qual era, mas que vivia falando francês. Mas tinha MUITO coreano. E tinha uma pá de brasileiros que falavam coreano com eles. Sério, a cada dia a gente descobria mais alguém naquela trupe que falava português.

Os coreanos, como orientais típicos, trouxeram caixas de suprimentos miojísticos e quitutes que eles costumam comer, já que tem receio da comida exterior e bla bla bla. Até aí tudo bem, mas de repente começaram a chegar TONELADAS de caixas de material de escritório, que aliás arrebentaram no meio do saguão, mostrando as diversas caixas de caneta, grampeadores, blocos post-it, apontadores (??) e mais, que abasteceria uma papelaria por aproximadamente uns 4 meses e meio. Os mensageiros do hotel cataram e carregaram a bagulhada toda, suaram pra subir com tudo e no final não ganharam uma mísera gorjeta, segundo um deles, revoltadíssimo. Não bastasse, chegaram quadros brancos, máquinas de xerox (não era 1 eram VÁRIAS!) e muitas resmas de papel A4. Pareciam que pretendiam montar um escritório de operações no hotel (e iam ficar por 1 semana apenas, pra ver o espanto dos que viam aquela quase mudança).

Em um dos dias dessa semana os coreanos iam fazer várias reuniões, o quadro do hotel marcava o nome da reunião (em coreano) nos salões. Os funcionários ficaram curiosos para saber sobre o que eram. Eu tinha até tirado uma foto, mas foi com o zoom horroroso do meu celular, então não dá pra ver os caracteres poligonais coreanos.

Na primeira semana acabei só li algumas revistas que surgiram lá, mas na segunda, que andava tão devagar que daria pra tirar um cochilo sem ninguém perceber, eu li alguns livros, gastando meu tempo de forma minimamente descente. Fechei a coleção de mangás Adolf, do Osamu Tezuka, que talvez resenhe depois aqui, e li também a coleção de contos do Stephen King, o Tudo é Eventual, além do X-Men Noir que comprei e chegara durante o RIo +20. Continuei a leitura de um outro livro que tinha comprado num sebo ano passado, mas desmotivei, ele é bem devagar. Só não li mais porque investi meu tempo em sudoku e palavras cruzadas também, e às vezes batia preguiça de ler. Ah, ganhei uma revista bacana do evento, também dei uma lida em alguns artigos dela.

Eu gostaria de ter mais pra contar, mas foi um trampo bem devagar. E, apesar do evento ter terminado dia 23, ficamos lá até dia 25, pra cumprir o contrato. Quer dizer, no dia 25 eu estava na faculdade fazendo prova e recebi uma ligação da supervisora, dizendo que eu não precisava ir, porque já haviam buscado os equipamentos lá do hotel e não iam precisar mais de nossa presença. Foi a melhor mensagem que recebi nas duas semanas que estive lá. Acabei perdendo uma visita, uma amiga foi lá de surpresa falar comigo e acabou andando à toa, mas foi ótimo voltar pra casa e fazer meus afazeres a torto e a direito.

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